quarta-feira, 30 de março de 2011

Alegria, alegria

O que achas de celebrar a alegria?
Quando criança, não era o que fazíamos?
Era, e como era alegria!
Riscávamos o chão, usávamos fantasias
Pipa? Graveto de bambu, cola e papel
Primeiras aulas de engenharia!
Ah, pueril inocência
Que saudades tenho desta fase
Recortes de papel, Atari.
Aniversário era correria pura
Em volta da mesa dos adultos
E aquilo para eles não era insulto
Era expressão de alegria
Da prole que se divertia.
Nas tardes chuvosas ou frias
O suco de caju com tiras de mentira
Açucaradas com canela salpicada
Para saciar a fome esquecida.
Sim, fui feliz como criança!
Hoje sou feliz porque como homem
Crescido, adulto, pai de família
Jamais abandonei o menino magrelo que fui
E me deixo levar pelos pensamentos
Como o Pequeno Príncipe fazia.

terça-feira, 29 de março de 2011

Legados de amor

Os legados desse amor
Ao que vejo; filhos tristonhos
Arrimo, chão de cimento, teto em zinco
Ao que do pó veio, não mais irá: divida!

Legados de prateleiras divididas
Armários vazios
Ou quem sabe cheio de espaço
Depende de quem vê!

Cama agora enorme; espaço.
Perfume que passa pro nada
Aquele prato, não pede mais
Despensa vazia; empoeirada!

Legados de utensílios meus
De utensílios seus
O que tu levas
O que me resta.

Repouso nada sossegado
Procura indivisa de abrigo
Nova casa, novos rumos
Guardar as coisas, tomar um prumo!

Legados, oh legados de amor
Antes regalos constituídos de histórias
Agora legados divisórios
Repartidos na partida, na dor.

É o que se leva no fim
Ou seria o que se deixa no fim?
Aqui, pouco importa a ordem
Legados existem, não no começo; no fim!

quinta-feira, 24 de março de 2011

É assim que me lembro de você

É assim que me lembro de você
Não com o olhar marejado de dor
Mas com sorriso franco e fulgoroso.

É assim que me lembro de você
Não com o corpo cansado de lutar
Mas com voraz vigor de juventude.

É assim que me lembro de você
Não com carranca de ódio na face
Mas sim com semblante sereno e feliz.

É assim que me lembro de você
Não subjugando nem ultrajando
E sim companheiramente me admirando.

É assim que me lembro de você
Não com a imagem curva da partida
Mas de cada vez que chegavas altiva.

É assim que me lembro de você
Não me causando ódio ou dor
Mas me ensinando dia-a-dia o amor!

Breve encontro

Estranho, mas foi assim bem simples.
O que era pra ser um encontro de desconhecidos
Culminou em duas pessoas de gostos idênticos
Que parecia até que já se conheciam.

Congruência quase plena no que gosta ou odeia
Falando de música, de viagens
Sobre o que bebe, o que sonha
Enfim, a citada harmonia.

Isso foi apenas o start necessário
Para em segundo os olhares cruzarem
Os olhos fitarem os lábios com sede
Como se ali algo já conhecido renascesse.

Ensinamentos profanos de fumaça
Dentre histórias relembradas
De 1001 livros e canções populares
Até mesmo daquela nova cachaça.

Mas dentre tudo, o que digo é que foi bom!
Perder-me ao menos que por minutos
Dentro de seus olhos lindos e puros
Que refletiam a minha sombra lá no fundo.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Vinde vide

Deletérios verbais desusados
Aptos de enlouquecer quem entende
Assim é o verbo, meu amigo!

Posso escrever em linhas dionisíacas
Ou mesmo na toada apolínea
Pouco importa: o conteúdo é que vale!

Poderia discorrer sobre o afago
Das mãos leves e vorazes
Que de fogo arde.

Quiçá poderia escrever dos dilemas
Apotegmas e incertezas
Das mentes inebriadas de viver.

Contudo poderia ser egoísta em estampar
Um belo sorriso desenhado e desdenhado
Enquanto sigo altivo solitário.

Dilemas, oh malditos dilemas!
Que nos fazem amor e ódio
Egoístas e altruístas ensilemos.

Enfim: gira o universo das frases e expressões!
Dionisíaco, apolíneo ou não
Vida e morte. Multidão e solidão.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Marri ô

Garota, não faça isso
Não brinque assim comigo
Como se eu fosse um menino.

Você veio alviçareira
Toda serelepe e sorrateira
Trazendo nos olhos um brilho.

Veio do sul, ah isso eu sei: é do sul!
Com seu sotaque carregado
Mas sempre tão gostoso de ser escutado.

Sua pele, que de longe se estampa
Traz consigo suaves pintas e manchas
Personalizando a sua beleza.

Cabelos mesclados em fios loiros e escuros
Cheiro suave, inebriante: perfume profundo
Capaz de aquecer o mais sombrio e soturno.

Enfim, essa é você, menina do sul
Com seus “erres” carregado e beijo suado
Que em seu colo me faz sossegado.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Cavo, oco, vazio...

Não sei bem quando foi
Só sei que passou.
Ou será que se foi?
Ainda não sei!
Era um coração ávido
Cheio de luz e amor
Mas por dores e dores repetidas
Ofensas não engolidas
O que era amor virou rancor.
De onde tantos amores partiram
Foi-se criando um buraco
Que por vezes foi preenchido
Mas novamente foi cavado.
Onde havia tudo de bom
Aos poucos foi virando amargura
Agora, quando me perguntas se amo
Sequer compreendo a questio.
Isso não foi culpa minha
Foi culpa sua. Claro, toda sua!
Que partiu e me deixou assim
Com um vazio no peito
Vagando viúvo pela rua.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Desilusão

Minha cabeça cheia de tudo
Repouso os olhos no futuro
Tento enxergar um clarão divinal
Mas a retina turva pela dor diz-me não.

Aquele ombro amigo jaza distante
Aquela voz bem fina e feminina
De longe já não se faz presente
Como que se tivesse desfalecido.

Procuro colo nas forças inebriantes
Ao menos é bom porque o tempo
Que outrora galopante e impiedoso
Agora se torna pangaroso errante.

Só me resta fechar os olhos outra vez
Esperar na esperança uma voz
Capaz de levantar meu brio
E me tornar amado e luminoso.