quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Amo como ama o amor

Como ousas falar em amor?
Você proclama esta palavra
Sem entender seu real conteúdo.
Para falar em amor
É preciso primeiro abdicar de si
E saber o que é se entregar.
Saber que é estar cego
E feliz por assim estar
Confiando nos braços da pessoa amada.
É esperar com taquicardia
O telefone tocar
Somente para ouvir a voz esperada.
É se deixar sorrir como bobo
Por migalhas de segundo do dia
Em que quem se ama nos olha fixamente.
É deitar no colo da pessoa
E em pleno silêncio profundo
Se arrepiar ao ouvir: eu te amo!
É desejar que tudo material
Simplesmente se torne banal
Pois seu peito sustenta seu corpo.
É um dia acordar na chuva
E fechar os olhos enxergando um dia de sol
Porque o amor te faz enxergar assim.
Enfim, é o que quero dizer
Que não basta apenas dizer que ama
Mas sentir com toda coragem.
Força capaz de mover o universo
Capaz de transformar o seu ser
E apenas sentir prazer no que vem do amor.
Amo como se deve amar
Amo como meu peito desejar
E por isso digo com fervor: eu amo!
Então não me venha profanar o amor
Pois as coisas materiais têm fim
Conquanto o amor resista assim:
Amo por sentir a todos...
Amo por sentir você...
Amo por gostar de mim!

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Profícuo

Sou útil àquilo que devo ser
Sou necessário ao que me permito ser
E nada neste mundo é mais belo
Que poder sentir-se proveitoso para si.

Não faço isso por fazer
Não forço minha real natureza
Porque senão estaria estuprando meu ser
E apenas vivendo por viver.

Então é isso: gosto de ser necessário!
Seja pra você que é um amigo
Seja para qualquer abjeto otário
Profícuo: um vantajoso utilitário.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Alma gêmea

Nesse momento, vejo-me dentro de teus olhos
De tão perto que posso sentir meu rosto ao teu.
Por tempos quis tocá-la e sentir teu frescor
Agora, aqui parado, sequer tenho coragem de beijá-la.
Que vontade de sentir o gosto que vem de teus lábios
De arrancar de você delirantes suspiros profundos
Enquanto meu rosto resvala de leve no teu.
Eu não viveria até aqui para perder este momento.
Eu não viveria tanto tempo assim sem esse momento.
Basta-me poder tocá-la por fora com calor
E por dentro, com minhas elocuções de amor.
Fazer-te me amar da mesma maneira
É de longe o que minha pretensão anseia
Pois como digo, e desta vez repito
O que me importa em verdade
É ter vivido até aqui para simplesmente: amar-te.

Um dia de chuva

A chuva insiste em cair lá fora
Enquanto alguns declaram um dia ruim
O corpo que nela molha, adora.

Vamos sair pra rua, vamos pular no quintal
Vamos mimosear um dia de chuva
Assim como adoramos um dia de sol.

Não recolham suas roupas estendidas
Não chamem as crianças para dentro
Apenas sintam as gotas de chuva ao vento.

Agradeça a Deus pela chuva que molha a terra
Que lava a alma e nos refrigera
E nos traz a alegria adormecida por sua espera.

Enfim ela chega. Fria e sorrateira
Gotejando suave com ruído de frigir no telhado
Enquanto o sono leve vai me acalmando.

E assim terminarei meu dia bem fadado
Guardando dentro de mim a alegria
Não de tempo fechado, mas do ruído da chuva no telhado.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Retrocesso

E volta aquele pobre rapaz
Depois de percorrer o caminho errado
Olhos vermelhos, pés esfolados
Desesperançoso com o próprio regresso.
Tentou reaver tudo que havia deixado
Mas percebeu que a vida seguiu teu rumo
E aqueles que outrora choravam
Hoje sorriem sem lembrar o passado.
E o passado... ah, o passado
Veio de frente a tudo o que sentia
Trazendo consigo a apatia
E batendo na cara com suas mãos frias.
Quisera poder mudar tudo num zás traz
Voltar ali, donde partira, e ver sorrisos
Mas a vida não é tão bela como dizem
E o futuro cobra àqueles que não sabem como vivem.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Pai

Pai! Palavra que exprime de um tudo
Pessoa que nos traz à vida, ao mundo
Braço forte e guerreiro que nos coloca de pé.
Meu pai, seu nome hoje se confunde com saudade
Não acredito na palavra “ausência”
Porque seu legado de alegria e amor nunca silencia
Ao contrário, fica mais forte a cada dia.
Que vontade, pai, de deitar no teu colo...
Que vontade, pai, de sentir o seu cheiro...
De caminhar lado a lado contigo
A me proteger dos infantes medos.
Agora, pai, minha jornada é outra
A de seguir com passos firmes a vida
Enfrentando a tudo e a todos
Com o queixo elevado altivamente
Punhos cerrados e sorriso reluzente
Colocando em prática os teus ensinamentos:
A ser mulher forte e guerreira
Mas com angelical amor ao próximo
Semeando aquilo que dentro de ti havia de melhor
A mais pura tradução da palavra amor.

(homenagem a uma grande amiga que perdeu seu amado pai)

Primeiro de fevereiro

Dedicação é algo que não se cobra
Amor é moeda que não tem torça
O apreço é afago que se devota
Acalanto é debruço que vem da alma.

O não que minha alma suporta
Que vem de tua boca alterosa
É coisa que minha mente ansiava
Conquanto o acalanto afastava.

Assim, me presto como indigente
A suplicar por carinhos indulgentes
Amealhando migalhas de seu amor
Para afastar de rompante minha dor.

Vontade de te pegar pelo pescoço
Arrancar de ti com alvoroço
Palavras que adocem meus sonhos
E me façam repousar sem meus prantos.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

CCóóppiiaa

O que eu sou além de mim?
Nada aquém do que sempre fui!
Sou parte de um esperma maduro
Parte de um óvulo fecundo
Sou um bem sucedido zigoto
Embrião, gema, ovo...
Sou parte daquilo que odeio em meu pai
Sou grande parte daquilo que em minha mãe admiro.
Sou diferente fisionomicamente de minhas irmãs
Mas sou em natureza idêntico ao que elas são.
Sou uma cópia perfeita de mim
Com soldos amealhados dos genes herdados.
Sou o que há de bom...
Sou o que há de ruim...
Não caibo em definições estabelecidas
Mas caibo perfeitamente em mim.

Devaneios insólitos

Essa noite foi longa
Filmes de Almodóvar
Um longo papo com o nobre Jack Daniel’s
Enfim, velhas histórias em repetidas situações.
A cada gole seco do Bourbon
É fácil sentir a ausência do medo.
A cada dissipação da solidão
Mais e mais a dor se ausenta do peito.
Investimentos de fálicos corações
Ressentimentos trazidos por várias gerações
Desentendimentos pífios que não levam a nada.
Quero deitar e descansar o meu corpo
Mas a mente inebriada lateja pulsando a lembrança
Daquele rosto lindo e bem cuidado
E do lampejar de seus lindos beiços
A proclamar o que sentes: amor!
Creio nisso com a fé que o afeto me abrolha
Ressinto o velho sopro desagonizante
Enquanto a porta se abre em meu peito.
Por ela entras sem qualquer cerimônia
E de subitâneo me lança à redoma
De seus braços singelos e maleáveis
E lança beijos inesperados
Com seus lábios carnudos e afáveis.